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Blog do Dunker

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Replicante de Blade Runner diz muito sobre os homens que escuto na terapia

Cena de "Blade Runner, O Caçador de Androides" (1982), de Ridley Scott - Reprodução
Cena de "Blade Runner, O Caçador de Androides" (1982), de Ridley Scott Imagem: Reprodução

06/08/2021 04h00

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Durante os últimos 30 anos, "eu ouvi coisas que vocês não imaginariam. Pessoas cuidando de crianças postas em chamas por seus próprios pais. Eu ouvi anoréxicas brilharem nos palcos masculinos da escuridão, ouvi mulheres chorando no Portal de Tannhä. Todos esses momentos não se perderão no tempo, como lágrimas na chuva, porque eu agora os compartilhei com vocês."

O que eu acabo de dizer, sobre crianças queimadas e mulheres sofrendo, é uma adaptação da cena final de "Blade Runner, O Caçador de Androides" (1982), filme de Ridley Scott que foi um grande acontecimento para minha geração.

Naquela época a violência contra a mulher era um tema distante, a não ser para os que viviam isso dentro de casa: como eu.

Este filme foi o começo de minha investigação sobre porque nós, os homens, tínhamos que ser assim: sempre fortes, viris, corajosos, violentos, sem medo, obrigados a pegar todas, bebendo, fumando e correndo. Além disso, por que tínhamos que ser heróis e heróis deste jeito bem específico?

O chocante quando eu tinha treze anos é que em "Blade Runner" o herói é um semi-humano, replicante branco que chora no final. Para chorar não pode ser homem humano.

No contexto das disputas olímpicas de Tóquio, todo um conjunto de moralidades ligadas a não desistir, romper metas e ultraar limites do próprio corpo torna ainda mais evidente do que é feito o mundo do trabalho e de como ele presume que lidemos com afetos, emoções e sentimentos.

Desistir é ser fraco, perder é ser ineficiente, não alcançar é não ter treinado bastante.

Nossa cultura estabelece duas regras básicas para quem quer ser homem no quadro da masculinidade heroica.

A primeira regra é que homens são todos iguais. Eles têm que fazer tudo igual, se vestir igual, falar igual, decidir na mesma maneira, só pensar "naquilo". Acima de tudo praticar sua masculinidade de modo monótono e repetitivo, porque afinal é assim que "todo mundo faz".

Imagine uma mulher chegando em uma festa e dizer: "olha, querida, que legal, viemos vestidas com o mesmo vestido, e ainda mais escolhemos o mesmo batom". Tragédia, ou então esta festa está à frente de nossa época. Mas nós adoramos coisas como camisas de futebol, ternos, exércitos e uniformes.

A segunda regra fundamental é: existem exceções. E aqui há dois tipos, as infra-exceções, que estão sempre sendo postas fora do clube e as super-exceções que são o que você queria ser quando crescer.

Por isso as narrativas de heróis são tão importantes para a mitologia masculina. Elas falam quase sempre das infra-exceções tornando-se super-exceções. Em geral, a grande virada é uma virada vingativa e violenta. Se você não é capaz de uma grande virada deve ficar vagando sozinho pelo deserto ou escondido vergonhosamente em sua caverna.

A medida que o jogo se expande, itindo cada vez mais competidores, ou seja, a medida que o mundo se democratiza e se internacionaliza, os heróis são cada vez mais raros e o sentimento de mediocridade se expande.

Este sentimento de irrelevância é muito perigoso para a masculinidade. Ele pode se tornar ainda mais perigoso quando o uso de vídeo games e redes sociais reforça e consagra a exclusão do sujeito, diante de um ideal não apenas inatingível (porque todos os ideais são assim), mas opressivo.

É assim que nascem os incels e é assim que uma narrativa, como qualquer outra, pode funcionar como fonte de hemorragia narcísica.

Ele transforma a narrativa do herói, algo em si mesmo, organizativo como um mito, em uma fonte permanente de autossegregação, humilhação e fracasso. Não é só porque os heróis são quase sempre repetições bizarras de formas brancas, heterossexuais, violentas com super-poderes que nós os humanos ordinários não temos. É porque a única alternativa aqui é tornar-se um vilão.

Um vilão é basicamente um herói ao contrário, que reduziu seu reino até o menor espaço possível no qual ele pode se considerar rei, tirano, dono, chefe ou proprietário. O latifúndio onde ele poderá vingar-se de todos os heróis imaginários e onde ele poderá testar sua força e seus limites indefinidamente.

Temos dois tipos aqui: o predador solitário que vem para civilização apenas para extrair riqueza e causar confusão e aquele que constrói um núcleo de apoio para seu próprio heroísmo, vamos dizer uma família.

Um núcleo de apoio é com um conjunto de atores coadjuvantes que estão ali apenas para fazer o protagonista brilhar. Eles devem entender seu lugar e eles devem entender sobretudo o extremo sacrifício que o homem-pai faz por eles.

Ele pode se comportar como um carneiro no trabalho, mas basta chegar em seu próprio reino que ele se transforma em um corajoso valentão, disposto a fazer valer a sua própria lei. Às vezes é até o cordeiro de Deus que se recusa ao sacrifício doméstico de lavar a louça, colocar o lixo para fora e arrumar a cama.

Por que tais gestos tão simples e tantas vezes tão aproximativos são sentidos como atos impossíveis para o modelo básico de masculinidade?

Porque estes gestos ofendem seu poder e sua glória. Agindo assim ele contraria a regra fundamental número dois que é a regra da super-exceção.

Sim, alguém poderia dizer que foram criados pelo nosso sistema herdeiro da escravatura e do heteropatriarcado, no qual os serviços domésticos contaminam a masculinidade. Mas o pior aqui é que a patologia identitária do herói é que para ser herói ele não teria que provar nada para ninguém, porque ele já nasceu assim, ele fez o que fez porque isso tudo é expressão do seu heroísmo.

De fato, essa é a principal tragédia que tenho escutado nestes anos como psicanalista de homens que se querem super-humanos, quando acabam se tornando apenas replicantes incapazes de olhar para sua própria condição.

Eles desprezam os pequenos sinais de amor, eles se tornam cegos para o amor que os outros lhes dispensam. Isso acontece porque este amor já estava no script, como fama e reconhecimento, mas não por este público, não por este auditório, de quem ele recebe a mensagem cotidiana de sua própria mediocridade.

É assim que ele começa a agredir, primeiro atitudinalmente com desprezo e desdém, depois verbalmente, com piadas e depois ameaças. Ao final, tapas e agressões parecem fazer parte da paisagem.

Neste roteiro a agressividade é estrutural porque ela é a única face de si mesmo que o herói consegue reconhecer como heroica.

É assim que ele transforma o pouco de autoridade que lhe resta em mero exercício de poder. É assim também que ele recorre a artifícios, como traições e substâncias engrandecedoras, que lhe permitem recolocar a autoridade que lhe escapa pelos dedos com mais poder.

No fundo é a isso que ele está dependente e não ao tipo de veículo que o leva para o lugar onde ele esteve, por direito de herança.

Ou seja, a masculinidade tóxica que agora todos conhecem é uma variante mal encaminhada da masculinidade heroica. Isso nos permite tratar o problema um pouco antes de ele se enraizar. Ele a por muitas vias, inclusive jurídicas e educativas, mas quero crer que isso a pela atenção e intervenção sobre a narrativa de masculinidade, em construção desde cedo, sobre qualquer um em quem vestimos este semblante de "vai ser homem".

Qualquer um pode continuar a ser herói, se quiser, mas terá que reconhecer quais são os seus termos, e os termos são sempre dados por aqueles com quem se vive e a quem se ama. A realização de uma vida se mede por seus próprios termos, por sua realidade interna, seja ela qual for.

Em segundo lugar é preciso uma reforma da relação do homem com seu corpo, não mais uma máquina peniana dirigida por um cérebro autogestor, mas um corpo que demanda cuidado.

Em terceiro lugar, e repetindo ironicamente um clássico da masculinidade tóxica universitária: é importante arrumar a sua própria cama. Não apenas no sentido, aliás, benéfico de participar do cuidado com a casa, mas de arrumar a cama no sentido de descobrir e explorar usos do prazer, além daquele que lhe garante ser o herói postiço de uma identidade genérica.

Em quarto lugar é necessário desenvolver um vocabulário, um léxico e gramáticas de reconhecimento para que afetos sejam tramitados em palavras e destas em sentimentos, não só ativamente e não só em comportamentos.

Finalmente devemos ser capazes de refazer a história de nossa própria masculinidade, entendendo seus maus encontros e suas bifurcações às vezes ainda disponíveis.

Receber amor e carinho é muito difícil para o herói cuja função sem contexto é proteger e intimidar inimigos. Mas fácil é contar quantas você pegou ou como foi na zona com os amigos.