Histeria x descaso: quem é você na polarização do coronavírus no WhatsApp

A pandemia do coronavírus está aí e, claro, chegou com tudo aos grupos do WhatsApp. Mais uma vez, o que se vê nas conversas de família, amigos, colegas de trabalho e grupos variados é a polarização, agora entre os extremos: descrentes versus desesperados. No meio, a parcela que se prepara conscientemente para enfrentar a situação (prefira) —mas não totalmente sem ansiedade, medo e angústia.
O mundo já registrou mais de 190 mil infectados e 7.894 mortes*. No Brasil, são 291 casos confirmados e duas mortes, até o momento. Um prato cheio para as fake news e tretas no WhatsApp, não?
A economista Eduarda Ferreira ou por isso há alguns dias. Recebeu um vídeo de um conhecido que defendia que o medo do coronavírus era exagerado. Outra pessoa do grupo então encaminhou uma longa mensagem com frases alarmistas para dizer que a "histeria do corona vírus [note o erro na palavra coronavírus] é perfeita para restringir ou abolir direitos civis". "A mesma mensagem informava até que o vírus foi gerado pelo 5G", lembra Ferreira. O texto se referia a uma teoria da conspiração que associa a doença a mortes por radiação supostamente emitidas por antenas de telefonia —Tilt já explicou que isso é mentira.
"Tem gente achando a maior bobagem, seguem preocupados com festa. Cansei", desabafa a veterinária Raquel Viotti. Ela conta que tudo isso tem sido motivo de estresse. Algumas pessoas, conta, estão bem pouco preocupadas com a pandemia, mesmo com tantas informações sendo divulgadas pela internet, jornais, TV e rádio.
"É gente que só vê o próprio umbigo, não pensa no todo. Desculpe o desabafo", falou Viotti.
Professora de português e inglês, Ana Paola Di Bartolomeo Thomé também está vendo seus grupos divididos. O que a incomoda são os argumentos que excluem os procedimentos de higiene recomendados pelos órgãos mundiais de saúde, como achar que só a fé resolve.
"O que eu vejo muito são frases como 'Deus vai proteger a gente'. Não falam nada de ter responsabilidade, sabe? De se proteger para proteger os outros. Jogar para Deus a responsabilidade é egoísmo", acredita. "Vejo muito as pessoas dizerem 'ah, isso não é nada' ou 'imagina que eu vou pegar'", acrescentou.
Se você ainda tem alguma dúvida, saiba que o novo coronavírus existe, causa uma doença respiratória e se espalha rapidamente pelo mundo, por isso foi decretada uma pandemia. A Covid-19 requer cuidados redobrados, pois costuma ser mais agressiva em pacientes do grupo de risco (idosos e pessoas com asma, bronquite, diabetes ou doenças auto-imunes, por exemplo). Parte importante dos cuidados envolve adotar medidas restritivas (como isolamento social e quarentena) para diminuir o poder de contágio.
Segundo pesquisadores, o grau de contágio do coronavírus é moderado (em toro de 2 e 3) e a letalidade é baixa estatisticamente, mas se trata de um vírus novo, com consequências não completamente claras. Outro agravante é que o pico de contaminação sobrecarrega o sistema de saúde, o que dificulta muito o atendimento a quem precisa. Existem relatos de pessoas sem sintomas que transmitem a doença.
Histeria vira meme
A polarização também vem acompanhada de muitos memes e figurinhas. Afinal, somos brasileiros. Os desesperados que estocam papel higiênico e acabam com o estoque de produtos básicos no supermercado não foram perdoados pela internet. Muito menos os que superfaturam em cima de álcool gel. O pânico e a histeria são o outro lado da discussão, porque costumam vir acompanhados de ações bem pouco coletivas.
Há ainda quem tema mais as consequências do isolamento social. A economista Ariene Salgueiro até o momento só recebeu vídeos e textos com conteúdos que condiziam com o que está sendo divulgado pelos órgãos oficiais de saúde e noticiados pela imprensa, mas nota uma preocupação entre seus conhecidos com o impacto econômico. "Já está afetando vários setores. É preocupante também", disse.